Teste de acessibilidade

Tainara Reis
7 min readJul 6, 2020

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Autoria: Tainara Reis e Dereck Alexander do Egito Portela

O que é acessibilidade

Sob o ponto de vista da tecnologia, é a garantia de que, qualquer pessoa possa utilizar uma determinada aplicação sem nenhum tipo de impedimento. Isso significa, que não apenas o usuário “típico” conseguirá utilizar com satisfação a aplicação, mas também aqueles que vivenciam algum tipo de deficiência ou incapacidade — classificadas em quatro grupos abrangentes: visual, motora, auditiva e cognitiva.

Para que isso seja possível, os envolvidos na criação de software precisam pensar em acessibilidade desde o princípio do desenvolvimento, seguindo todos os protocolos e boas práticas de acessibilidade. Caso contrário, o software em questão terá pouca ou nenhuma cobertura para pessoas que possuam deficiência.

O que é teste de acessibilidade?

Testes de acessibilidade visam garantir que a aplicação, seja ela web ou móvel, esteja apta para ser utilizada por PCDs (Pessoas com deficiência). Esses testes podem ser feitos de formas manuais por especialistas na área, automatizados com uso de softwares e ferramentas apropriadas, e podem ser feitos até mesmo por usuários PCDs.

Porque testar acessibilidade?

Testam-se aspectos de acessibilidade para garantir que a aplicação desenvolvida poderá ser utilizada pelos PCDs sem maiores problemas. Muitas vezes, as empresas não possuem o conhecimento dos possíveis obstáculos que pessoas com deficiência encontrarão. Algumas (ou muitas) ignoram os testes de acessibilidade, ou simplesmente os fazem sem a presença de alguém que de fato precise da acessibilidade, e saiba na prática o que é necessário em uma aplicação para que ela seja acessível.

Um exemplo dos maiores obstáculos encontrados à acessibilidade são os CAPTCHAs, que na vasta maioria utilizam de textos e imagens para uma verificação de segurança, o que torna inviável para pessoas com deficiência visual o uso de aplicações que utilizam desse recurso.

Testes manuais e automatizados de acessibilidade

Os testes de acessibilidade podem ser realizados de forma manual ou automatizados. Para ambos os casos, é necessário verificar o WCAG 2.0 (Web Content Accessibility Guidelines), que são recomendações de acessibilidade para WEB publicadas pela Web Accessibility Initiative do W3C, estão sendo aplicadas corretamente.

Para a execução de testes manuais é necessário que um especialista tenha um conhecimento sólido sobre acessibilidade, e entenda das dores de uma PCD. Um teste que pode ser feito é desligando alguns periféricos e tentar usar a aplicação. Por exemplo, desligar o mouse e tentar navegar pelo software usando apenas o teclado, verificando se está simples e intuitivo de usar, se o esforço para realizar uma operação é o mesmo ou próximo a de uma pessoa que não possua deficiência.

Outro exemplo de teste que pode ser executado é a utilização de um screen reader para saber se a página está 100% legível, e se o usuário dessa ferramenta terá uma experiência agradável durante a navegação.

Apesar de o especialista utilizar todas as técnicas e boas práticas para testar a acessibilidade, não é uma tarefa fácil simular uma PCD. Para isso é necessário que usuários PCDs participem dos testes para que os mesmos possam sentir a experiência de usabilidade e dar feedbacks sempre que possível.

Existem ferramentas tanto para verificar o quão a aplicação é acessível, como para realizar os testes de usabilidade de forma automática. Essas ferramentas que testam automaticamente, verificam o código HTML de uma página WEB, caso a aplicação seja WEB, e validam se o código está de acordo com as WCAG 2.0. Um exemplo dos testes que são executados é a checagem do atributo alt nas tags de imagem do HTML. Vide o exemplo a seguir:

O atributo alt garante que o screen reader “leia” a imagem para que uma pessoa com deficiência visual, por exemplo, entenda do que a imagem se trata. A seguir, trouxemos algumas ferramentas de automação de testes e softwares de teste de acessibilidade.

Ferramentas e Softwares

Lighthouse: O Lighthouse é uma ferramenta que permite a análise de vários aspectos de um aplicativo web, dentre eles a acessibilidade. Ao auditar uma página, o Lighthouse executa uma série de testes automatizados na página e gera um relatório sobre seu desempenho.

São exibidos, além dos resultados, os pontos de melhoria que podem ser implementados para tornar o site mais acessível. Está disponível tanto para ser executado na linha de comando, quanto como extensão do Chrome. Abaixo, uma demonstração de como a ferramenta pode ser executada. No exemplo, foi testado o site OLX.

AChecker: O AChecker é um software que verifica o HTML das páginas para saber o quão acessível ela é, validando se a aplicação está seguindo as WCAG 2.0.

Ao acessar a página do AChecker, é possível copiar e colar a URL da página que deseja ser analisada, fazer upload do código HTML ,ou até mesmo colar o código HTML em si.

Para o início da análise, basta copiar a URL da página (pode fazer o upload do HTML ou copiá-lo também) e clicar no botão “Check it”. A avaliação do AChecker consiste em dar uma nota geral para página, baseado nas diretrizes da WCAG 2.0. Essa nota pode ser A, AA ou AAA, onde A é a mais baixa e AAA a mais alta.

Outro ponto da avaliação é o apontamento de três tipos de problemas, os conhecidos, os prováveis e os em potencial. Os conhecidos são aqueles que de cara são identificados pelo AChecker, que são impedimentos para acessibilidade e devem ser consertados. Os prováveis são os que podem ser barreiras na acessibilidade e provavelmente precisarão ser corrigidos. Já os em potencial, o AChecker não consegue identificar se esses problemas serão impedimentos ou não para acessibilidade e, nesse caso, é necessário uma decisão humana.

Abaixo, um exemplo de análise de acessibilidade da página do Google.

Benefícios do teste de acessibilidade

  • Ampliação da audiência: com mais pessoas tendo condições de acessibilidade favoráveis a elas, maior será o alcance da aplicação. Sites de e-commerce, por exemplo, podem perder vendas quando PCDs não conseguem comprar produtos online.
  • É um direito civil: a Lei Brasileira de Inclusão, que entrou em vigor em 2016, garante que as pessoas com deficiência tenham acesso à informação e à comunicação, inclusive em sites na internet. Empresas responsáveis por estes sites podem sofrer queixas por descumprimento desta lei.
  • Imagem positiva: o posicionamento de uma marca frente a uma causa social, contribui para uma imagem positiva tanto para PCDs, quanto para seus entes queridos. Além disso, estas pessoas se sentirão motivadas a recomendar a marca para outras pessoas.
  • Melhora o SEO: tornar uma aplicação mais acessível, a torna mais facilmente encontrável por mecanismos de busca (SEO).

Quais são os desafios?

Um dos grandes desafios é justamente a baixa quantidade de aplicações que dão suporte a pessoas PCDs. De acordo com a AgênciaBrasil menos de 1% das aplicações passam nos testes de acessibilidade. O Censo de 2010 mostra que aproximadamente 24% dos brasileiros (cerca de 46 milhões de brasileiros com base na população da época) são deficientes. Com esses números, é perceptível que a acessibilidade ainda caminha a passos curtos. Por isso é necessário uma conscientização exaustiva por parte das empresas e pessoas que desenvolvem softwares para que pensem sempre na acessibilidade primeiro.

Outro grande desafio é não apenas atender pessoas com deficiências, mas também analfabetos sem letramento e funcionais. Segundo o site MWPT, o analfabetismo na área rural gira em torno de 44%, contra 24% na área urbana. É de extrema importância levar acessibilidade para a população da zona rural, visto que ela fornece 70% dos alimentos do mercado interno. Com mais acesso à informação, promover-se-ia uma melhor qualidade de vida e produtividade.

Conclusão

Aferir o quão “acessível” está o software pode ser uma tarefa simples visto a gama de ferramentas que realizam medições e, até mesmo, sugerem em detalhes como adaptar o software à diretrizes de acessibilidade. O desafio é, de fato, acolher a importância de democratizar o acesso às aplicações de software para todas as pessoas.

Referências

Construindo uma web melhor: ferramentas e testes de acessibilidade https://medium.com/@mariaclarasantana/construindo-uma-web-melhor-ferramentas-e-testes-de-acessibilidade-20200f2a3739

Teste de acessibilidade: por que é necessário e como é feito https://www.essentialaccessibility.com/pt-br/blog-pt-br/teste-de-acessibilidade-web-por-que-e-necessario-e-como-e-feito/

Testes automatizados de acessibilidade https://medium.com/@oieduardorabelo/testes-automatizados-de-acessibilidade-6a164e77e11e

Como testar acessibilidades em websites? https://imasters.com.br/acessibilidade/como-testar-a-acessibilidade-em-websites-parte-01

Desafios e oportunidades de pesquisa em acessibilidade e inclusão digital no Brasil: https://mwpt.com.br/desafios-e-oportunidades-de-pesquisa-em-acessibilidade-e-inclusao-digital-no-brasil/

Acessibility Web Fundamentals https://developers.google.com/web/fundamentals/accessibility?utm_source=lighthouse&utm_medium=devtools

Curso Web Acessibility desenvolvido pela Google e gratuito https://www.udacity.com/course/web-accessibility--ud891

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Tainara Reis
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Written by Tainara Reis

Senior Quality Engineer at FullStack Labs, Insta: @qatainarareis